terça-feira, 25 de agosto de 2009

A diferença entre não fazer nada e fazer nada...



Acordar quando não se tem mais sono (ainda bem que 30 minutos antes do fim do café da manhã do hostal), voltar para o quarto, pensar no que fazer e simplesmente desistir de fazer isso...para quê tanto apêgo às programações? se eu fugi dos compromissos, porque buscá-los agora como norte do meu dia?

Os últimos meses foram marcados por inúmeras e quase insuperáveis listas de "things to do", coisas que deveriam ser feitas para que essa viagem se concretizasse...alí estavam incluídos todos os tipos de obrigações, pessoais, fiscais, jurídicas, contratuais, telefonemas a fazer, telefones a cortar (uma hora e meia com a Claro me explicando que eu deveria manter a linha pós paga para não perder as promoções, mesmo com previsão de estar fora do País por no mínimo 7 meses...

Passei a conviver com as famigeradas listas, acordava já olhando o que tinha para fazer, qual a ordem mais lógica, rápida e conveniente de cumprí-las, o que só eu poderia fazer, o que poderia ser feito pelo Carmelengo (ou melhor dizendo Anjo da Guarda, Fiel Escudeiro)...

Pois bem, para que pensar no que fazer e assim não se permitir FAZER NADA, esperar que o que eu vou fazer simplesmente aconteça?

Em tese até que é fácil partir para o não fazer nada...digo isso em tese...pois quando menos me apercebo, já estou eu com uma lista de "things to do" coisinha que devem ser compradas, feitas, telefonemas a serem dados....


Dá até para pensar como é difícil entrar na vibe dessa vida fácil, mas eu tenho certeza que chegarei lá. Hoje dormi quando tive sono, almocei quando deu fome, simplesmente me abri para o inesperado...como uma deliciosa casa de saladas onde eu pude colocar toda a rúcula do mundo e um longo papo sobre filosofia, com meu amigo bicho grilo mais cheio de teorias sobre todas as coisas do mundo. Tem hora que eu fico apenas ouvindo, ou porque não entendo, ou porque me distraio, mas na grande maioria das vezes porque o que ele diz faz sentido.

Prá que me preocupar com o que fazer, se o simples caminhar pelas ruas, vendo as pessoas, olhando a paisagem, já nos dá tanto prazer? Claro que eu quero ver os filmes do cinema na esquina (todos os três), quero voltar na Salad Creations (todos os dias) e me empanturrar de rúcula e molho do mostarda, tomar café na Starbuck´s, tendo tempo para ler o livro que comprei, imaginar o novo mundo que está por vir e ...sim e curtir cada minuto desse sabático.


Uma questão me veio a mente, isso depois de horas de filosofia com um velho amigo carioca, que dedicou valiosas horas de seu tempo para conversar sobre Alexandre, o Grande, Diógenes, usos e costumes sociais (nunca mais direi que comprei cacarecos de mulher...), em especial sobre a capacidade de um homem fazer diferença para o mundo...

Será que o título do blog conduz a idéia que o livro de Mrs. Gilbert impulsionou minha viagem...?

A resposta é sim e não. Sim, o título realmente induz a essa conclusão. E não, o livro não tem nada a ver com meu sabático. Apenas, seu texto, por muitos criticado e por milhões amado, desenhou muito bem o que se passava em minha cabeça, isso de uma forma divertida, leve, quase uma novela global ou uma comédia românticas, que muitos dizem detestar, mas são imbatíveis em vendas de ingressos e audiência...

A semente foi de fato plantanda em Praia de Pipa, anos atrás, com um charmoso backpacker que me mostrou as sandálias mais feias e maravilhosas do planeta: crocks, e quê, da amizade travada, me permitiu acompanhar seu sabático, a quantidade de experiencias colhidas, as amizades travadas, seu encontro consigo mesmo...isso em meses de pura perambulação pelo continente sulamericano.

Meu querido, muito obrigada.

Mas a idéia ainda era disforme, precisa de um molde, para que eu soubesse exatamente o porque da minha inquietude. Algo mais ou menos como Mrs. Gilbert no inicio de seu livro: o que me aborrece tanto? porque tanta impaciência com a vida?

Até porque reconheço que tive uma vida feliz, marcada por grandes e fieis amigos, uma mãe fabulosa, um grande amor, dinheiro suficiente para viver fazendo e comendo as coisas que gosto, filhos do coração aos montes, uma carreira ascendente...mas a inquietação não passava...

A correria era tanta e a curiosidade pelo mundo também, que de fato deparei-me vivendo literalmente em função das próximas férias, e que férias...Rio de Janeiro, Peru, Buenos Aires, Pipa, Chapada, Europa, Minas Gerais, Vitória...afff, eu andei mesmo...algumas vezes no sentido literal...

Até que, numa banca paulistana (mais uma viagem) tropecei num título sugestivo: Fuja por um Ano...da editora Publifolha...e não é que a leitura da obra trouxe à minha mente o desejo do que eu queria fazer e não sabia ao certo expressar: uma experiencia sabática.


Esse livro eu não li...devorei...sabia cada capítulo, desde o que você tem que planejar, até as coisas que você pode fazer, seus ganhos e suas perdas, acho que com esse guia eu estava mais parecendo um perdido no deserto que encontra comida...

Estava pois desenhado meu projeto, o destino após algumas, e não foram muitas procuras, também não foi difícil, inclusive, eu já havia comprado num passado recente um guia (e o segredo do presente de aniversário repetido desvendou-se) daquele local, consultado várias vezes uma conselheira para intercambio...até que do nada, brota em meu escritório, um velho amigo de infância, com que eu tinha perdido contato há anos e pergunta: o quê você acha de eu largar tudo (no caso dele emprego, carro e familia) e ir morar na Austrália?

Parecia que em todo canto que eu ia tropeçava em alguma referencia aquele País.

A resposta esperada de um profissional ponderado seria: não vai não, você está bem no emprego, não tem grana guardada, tira férias, esfria a cabeça, blá, blá, blá...meu piloto automático foi mais rápido, olhou para o guia novinho que estava na estante (hoje ele pertence a alguém muito especial, que comunga comigo do prazer de viajar, já que o outro que ganhei no aniversário, mais pela fonte que por qualquer outra coisa, está costurado em mim, me acompanhando sempre) e puxou na memória ram os e-mails com a conselheira...a resposta não poderia ser outra: Vai!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Acho que de fato eu estava respondendo a mim mesma...o fato é que esse amigo foi e agora a gente vai se reencontrar lá na Terra dos Cangurus, no minha fuga por um ano...seremos roommates ou na fala deles flatmates.

Assim, fechando o círculo, o livro homenageado no título do blog, veio apenas a ilustrar uma experiencia semelhante ao que desejo ter um encontro íntimo, pessoal e intransférivel, comigo mesma...o que de fato foi o que Mrs. Gilbert também foi procurar em sua peregrinação...


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