sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Noites Tupiniquins



Começar um sabático nos inspira profundas modificações de vida, o que impõe outras muitas mudanças menores, mas não menos importantes...devemos aprender a sair de nossa rotina, abrir a mente para novos aprendizados, abrir o coração para novos encantamentos, enfim nos impor um outro ritmo de viver.

Ir ao Rio de Janeiro antes de dá um pulo para o outro lado do mundo me pareceu um jeito sábio da mudança não ser tão brusca. Lá outros idiomas são familiares, mas você vai ouvir e falar (na maioria das vezes) o português; você se sente meio que viajando dentro de sua casa e no meu caso, meio que arrodeando dentro um universo muito familiar: Bairro de Botafogo.

Eis um lugar único na Cidade Maravilhosa. Mistura aquele cheiro de cidade pequena, com casarões do tempo de império, muitos idosos andando para lá e para cá, cenário que nos é tão familiar, mesclando-se com a boemia da cidade grande, não é tão Copacabana, mas com a mesma inspiração, além do bônus de uma visão incrível para o Morro da Urca, doce como o açucar de seu pão.

Dentro dos casarões, dos botequins, dos salões de beleza de bairro, onde senhorinhas bem arrumadas contam com a maior facilidade suas estórias (tomara que o neto de Dona Lúcia esteja bem no papel que conseguiu em Malhação e que a amiga dela tenha conseguido alugar a quitenete), há um lugar em especial especial para se prestar atenção.

Por mais que eu tente fugir de lá, e eu não tento, sempre acabo por lá, tanto que a intimidade já derrubou algumas regras e hoje eu posso dizer que sou hóspede, amiga, visitante e quase-useful do hostel mais descolado da cidade, segundo palavras de um grande jornal, onde uma das coisas mais agradáveis de fazer é simplesmente não fazer nada e ver a vida passar deitada num puff, jogando conversa fora com todo tipo de gente que desembarca por lá, ainda mais quando por camaradagem (e um pouco de culpa por não terem perdido minha reserva) a gente ganha uma incrível caipirinha de lima, para acompanhar o papo, que só encerra quando o dia raia e já é hora de voltar para casa, fechar as malas e embarcar...para a nova casa...

Por lá, você pode explicar em inglês, que você entende o idioma de Sheakspeare, só não entende de música, daí porque não participa da conversa com o baterista inglês que veio fazer "não sei o quê" com Chico Buarque e outros músicos de renome e engrenou uma conversa com o mais carioca dos cariocas, que no passado também foi roqueiro, isso tudo ao som da música dos índios de parantins, of course...

Pode também descobri que suas raízes sempre estão perto, e que depois de sua vinda, outros tantos paraíbas por alí já chegaram e encantaram, tanto que hoje o forró é bem presente na trilha que envolve as cores e as sombras das noites tupiniquins.

É nessa hora que alguém chega a brilhante conclusão que os nordestinos são os únicos brasileiros que se identificam como conjunto e que podem até brigar entre si (que o digam as estórias envolvendos cearenses e pernambucanos que passaram por lá teimando em quem era melhor), mas basta alguém diminuir o brilhantismo do Rei do Baião ou falar que Carne Seca não é uma iguaria dos Deuses, que a defesa com sotaque arretado sempre toma a frente, fazendo honrar nossa região.

Foi por lá que perguntaram: Você já viu paulista defendendo carioca quando se fala algo do Sudeste? Ou alguém do Acre tomando as dores de um Amazonino? Mas se alguém falar do ceará ao paraibano, certamente o sentimento de conjunto nordestino aparece e algum argumento virá...

E para aprender isso, eu tive que sair do nordeste e me entrosar num ponto onde ser gringo é a regra: os hostais cariocas.

Nesse mesma noite, tentei acompanhar o passeio alcóolico de um figura incrível, um verdadeiro mineiro (de fato ele não é mineiro), mas tem todo jeito, daí porque o batizei como tal. Parece quieto, mas fala pelos cotovelos e todas as outras articulações do corpo e adora repetir o que fala.

Seu e-mail, por exemplo, eu acredito que todos os hóspedes da noite decoraram, mesmo dependendo de um processo mneumonico incrível; mas foi sua coragem para provar as invenções alcóolicas do akelá do hostel "assim Mozão não fica com tanta raiva, pois sair para beber cerveja é conduta grave, mas tomar uns drinks é chique", sendo um depois do outro, ou melhor, um com outro, e outro, foi a tônica da noite. Dali sairam causos incríveis de todos, pois quando ele se virou, todos estavam conversando com ele, inclusive os ingleses, sem entender uma palavra de português e ele sem entender uma de inglês, mas se comunicaram e o riso saiu frouxo dos rostos de todos...

Somente uma figura do naipe de Rodolpo, para convencer Mozão, que depois de ter sido expulso de casa e caído de paraquedas nos aconchego tupiniquim, que eles deveriam voltar, mas que ele precisava passar mais uns dias (além dos outros 15 que já havia passado morando e tomando toda a cerveja de lá) para se recuperar do trauma e retomar a relação, posto que evidentemente se amavam...só depois de tomar mais uma caipirinha de lima e outro "sei lá o quê com vodka", para compreender a perfeita junção dos pensamentos do mineiro... Mas infelizmente a bebida não era tão forte e eu não consegui absorver a perfeição de seu argumento...mas o e-mail dele eu não esqueci...rmz963..@algumacoisa.com.br...até porque como ele mesmo me explicou: é muito lógico e fácil de lembrar...

Por fim, a noite, minha última noite no Brasil, se encerra, graças a Deus sem ressaca, mas cheia de grandes lembranças, das muitas vezes que voltei aquele lugar e na certeza que da próxima vez, minha reserva será mantida...até porque sempre é bom rever a galeria de fotos do Rio antigo montadas sob um véu de luz negra, recanto que sempre é objeto de eterno convite a um breve retorno...

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